13.12.06

INTERMITÊNCIAS

“(...)Há certos muros que não devem ser vistos antes de envelhecermos: musgo e ocre, dálias sobre alguns, dilaceradas, sons que não devem ser ouvidos, pulmões da mentira, os metálicos sons da crueldade ecoando fundo até o coração, palavras que não devem ser pronunciadas, as eloqüentes-ocas, as vibrantes de infâmia, as rubras de sabedoria, latejantes. Sustos. Como me sinto? Como se colocassem dois olhos sobre a mesa e dissessem a mim, a mim que sou cego: isto é aquilo que vê. Toco os dois olhos em cima da mesa. Lisos, tépidos ainda (arrancaram há pouco), gelatinosos. Mas não vejo o ver. Assim é o que sinto tentando materializar na narrativa a convulsão do meu espírito. E desbocado e cruel, manchado de tintas, essas pardas-escuras do não saber dizer, tento amputado conhecer o passo, cego conhecer a luz, ausente de braços tento te abraçar, Conhecimento. Bêbado vou indo(...)".

Com meus olhos de cão - Hilda Hilst.

PEDRA FINA

Debes medirte, Caballero,
Compañero debes medirte,
Me aconsejaron uno a uno,
Me aconsejaran poco a poco,
Me aconsejaron mucho a mucho,
Hasta que me fui desmediendo
Y cada vez me desmedí,
Me desmedí cada día
Hasta llegar a ser sin duda
Horripilante y desmedido,
Desmedido a pesar de todo,
Inaceptable y desmedido
Desmedidamente dichoso
En mi insurgente desmesura.
(...)”
El corazón amarillo – Pablo Neruda.

3.12.06

DESSEMELHANTE

Você me ama mais ou menos quando não concorda comigo? Melhor...? Seu amar é também ódio? Assim - amor-ódio... Que crimes cometo - eu - contra você? Em nossas dessemelhanças... Ah! Sua decadência-afeição, a pretender-me menor...
Eu, pássaro-ferido em pleno vôo...

24.11.06

LAMENTO-BALBUCIO

Hoje tomei café contigo e me comovi. Não podemos estar distantes. Ouço uma canção cálida e passional, leve e triste - miríades delas... E cá está você de novo em mim. O sol brilha sorridente e tolo feito criança, desconjuntado de si - lindo. E o seu sorriso inrrompe pelo meu peito. Sublime... A brisa em seu silêncio traz saudades de sua tristeza profunda. Olhar perdido no horizonte de si - torvelinho humano. Vagueio no mundo e me falta... Preciso olhar em seus olhos quando a vida desliza intranqüila, saber-lhe - amorosamente acompanhada. Amo você dia após dia. E bem sei o mal que que algo assim encerra. Então, deixo-me estar - aguardo... Suspeito suas presenças. Sempre compondo a minha vida. Fumei um cigarro em sua homenagem, você que povôa minhas memórias, meus sonhos, meu cotidiano. Conversei com você sem saber o por quê. E me transfigurei... Estava triste e estranhamente repleta - como pode? Saudades eternas... Será sempre meu sentimento. Afinal, sempre estarei às voltas (quiça dançante) contigo. Você que plenifica minha vida - alarga meu ser. Não demore não... de voltar. O café está sempre quente, o cinzeiro à postos, os braços abertos, as mãos estendidas, portas e janelas entre-abertas... Espero que seja você que vem vindo... O sorriso largo que ouço ao longe, os passos ligeiros...

12.11.06

O Absurdo do teatro

"Os papéis exercem as pessoas, são mais poderosos quando nelas investidos".

Por quanto tempo mais?
Eterna espera.
Pouse sua mão sobre a minha.
Assim sem querer pertencer - proteger...
Sem pretensões.

- O amor ideal é aquele que não se sente...
- Sei... E a mentira não dita também não forja o caráter?
- Ah... tenha certeza que estou sendo sincera quando lhe minto...
...
Garrafas vazias como mãos que procuram tecituras queridas - Ternuras jamais esquecidas. O crepitar de seu cigarro, fragmentos de um crepúsculo particular. Memórias, silêncios, fulgores. Solidão familiar - terna. E a tua mão agora pela chama e fumaça pacificada. Olhar perdido - submerso - no infinito negro do mundo. Frêmito e beleza e luz e silêncio. Assim seguimos - mariposeantes. Hipinotizadas a arder até a morte do amor pelo negro dentro da luz - dentro de nós...

"nós"

De tanto barter, meu coração...
De tanto - Bater...
Gestos, ocultos?

" - Sabe?
- Todos deveriam ter o coração do lado de fora do peito, exposto.
- Por quê?
- Bem, assim ficaria fácil saber quem está realmente vivo ou apenas funcionando."

Jazigo.
Lugar que nos aguarda.
Espera úmida - uterina.
Ah! minhas asas de borboleta
A se debater por dentro - porção perturbadora de mim.
"Eu" - cebola absoluta!
Camadas infinitas de emoção e ilusões.
Prisma por onde a não-luz dos outros se manifesta.
Oposta-sombra.
Compor que é sem ninguém.
Eco-ato, alto-falante.

"- Será assim amiga?"

Fragmentos são pensamentos materializados...

" - Então posso concluir que te criei".
E na gestação do mundo me recriei, enfim.

26.10.06

De onde você parou...

E os muros,
Umbrais absolutos de meu ser,
Cresceram sobre mim como têias...

Cubriram todo a luz que havia em mim,
Fecharam fresta à fresta sem querer.

E eu que entre muralhas me perdi,
Tecendo sonhos a me libertar,
Não percebi que quase sem querer
Perdia-me tremendo a me encontrar.

E como fosse um pássaro a voar
Desci, como quem plana rumo ao sol,
Sumi na imensidão de em mim o ar...

Na seta de meu alvo a despencar,
Cai cegaga pela luz que em mim
Tragou-me em mim a treva a me fechar,
Cobriu-ma a espera esfera de se dar.

E laço insuspeitável a me oprimir,
trancou-me e em mim gaiola - onde estás?
És? Onde estou?

- "Sim, sim. Todo homem é uma ilha...
Insuspetável e balouçante entre tantas outras ilhas.
Mas, quem saberia?
...
Um átomo, um muro, matéria negra.
É. Tens razão... Pessoas são ihas que choram."

Alguém? Tem alguém aí? Pode me ouvir?
... ... ...
... ...
...
.

28.9.06



A cura e a tortura...
De que imagem trata o brinquedo?
Com que brincadeira cura-se a crueza da realizade?
Va savoir...
Quem o sabe?
Curar-matar, morrer-viver, sarar-sangrar, limpar, conter...
Os descaminhos do ser - ruma à luz?
Quiçá - Heyokah - quiçá!

"Quando giro fico tonto...
Fico tonto e danço zonzo.
E se tento parar - a náusea.
Desacelerar? talvez...
Só sei que quanto mais rodopio,
quanto menos vejo, quanto mais me entrego...
Breve, breve, vem o tão sonhado tombo."

(Sobre giros e tombos - CRIANÇA. Qualquer, Fora de catálogo)

20.9.06

Ausente... Ímpar... Negro...

-Tem uma brexa, tem uma brecha... Gritou de espanto, mas como toca-la sem vê-la, se a força do vento que por lá escapa, me arrepia os cabelos?
Não cantou...
Muro absoluto, antigo – porta-de-destino.
Eu prisioneiro utilitário, a cavar cada vez mais fundo, a trazer a superfície água tão límpida...
Tem uma brecha?

Aonde irá a terra em minhas unhas, até quando meu Deus? – Até quando?
Por que sei, se a escuridão úmida e só do que me aflige não pode por si mesma libertar?
Onde irei, se dizem que a Terra é redonda, se as margens nunca chegam a aportar, se as linhas nunca tocam minhas mãos, se há âncoras sem fim a me tragar?
As frestas a balbuciar-me sonhos, a mente a proliferar insanos, as mãos inquietas nos desvãos, o cenho a ferir-me e a sangrar...
“Levanto meus olhos, aos montes, de onde me virá o socorro?”
“Socorram-me subi no ônibus em Marrocos!”
Falando absurdos, sigo sozinho o meu descaminho.
Questões que me atormentam e constroem,
Silêncios que ressoam como dardos, atravessam como flechas com seu susto o coração...
Que teço enquanto calo, que tenho do que cavo? Se minhas águas saciam sedes estranhas e me brotam as águas das entranhas – dá aridez de mim a desgastar...
Tenho medo... Tenho farpas... Tenho sonhos... Sinto sede...
“Como pode o peixe vivo viver fora d’água fria?
Como poderei viver?
Como poderei viver?”
Tem uma brexa, meu Deus, caio ou saio?
Onde me leva o incessante cavar, cada vez mais fundo, cada vez mais árido?
Tenho frestas, onde não consigo ver,
Mas como me partem... Evasão de mim.
Para além que não posso desfrutar...
“Onde estás que não respondes?”
Onde respondes que não estás?...
A chuva escorre pelos vidros ou a vida escoa pelas brechas?
Em que lugar não há arestas?

“Silêncio.
Não há banda, não há orquestra – tudo é uma gravação...”

13.9.06

"Depois volto e preparo um café pra lhe saborear"

Vinho branco - seco ao primeiro gole, transparente e lúcido.
Translúcido-ser...

Poço absoluto - cais...
Fonte de águas tão límpidas,
Trazidas das trevas, do fundo silêncio de si.

Com que veemência derramas-me
O mais sombrio mistério de tua liquidez.

O poço dos olhos d'água, totalmente insuspeitável...
O escuro arredio e sensível - imerso no azul ininito.
- Sabes? O fundo do mar é negro...
O frio e silente é sua natureza mais pofunda.

Trazes nos olhos a mística óbvia da amplidão que tanto amas.
E eu a amar quieta a imensião do que desconheço.

Vinho branco?
Translúcido-ser...
Bebo o negro de ti a vagar.
Em que gole encontras no negro do outro a presença que procuras?

Circunlóquios

"O caminho que conduz para fora do labirinto do mundo fenomenal, que conduz à eternidade... Encontrar esse caminho e partilhá-lo significa alcançar o Tao. O caminho para a obtenção do Tao é duplo: um conduz à existência, outro conduz à não-existência. Quando são orientados para encontrar o Tao na existência, os fenômenos devem ser observados de tal maneira que não se fique enredado neles. As formas exteriores do Tao, sendo este a origem de tudo quanto aparece, são: o alto e o baixo, o belo e o feio, o bom e o mau. No entanto, procura-se me vão o Tao na realizade dos fenômenos, quando se term objetivos e intenções. Quanto mais se explorar o mundo com objetivos e intenções determinadas, quanto mais se cultivar a ambição, quanto mais se quiser ou se fizer algo, tanto mais se ficará enredado no isolamento. Nesse caso, não faz nenhuma diferença para onde a nossa aspiração se volte; se buscamos prazer, cores, sons, guloseimas, jogos excitantes, bens raros, o efeito de tudo isso é apenas um enredamento mais profundo na ilusão. Trata-se igualmente de ilusão, quando o objetivo for cultivar a santidade e a sabedoria, o amor e a responsabilidade, a arte e o lucro, a erudição e o conhecimento, poi isso tambémprovocará a excessiva acentuação de um dos pólos, o que forçosamente provocará a acentuação do outro.
O Tao é como a tensão do arco. Complementa cada unilatyeralidade pelo seu oposto. O alto é rebixado, o baixo é elevado. O sentido do céu é reduzir o superabundante e complementar o carente. Por isso, o caminho que conduz ao Tao pelo ser passa pela aceitação dos opostos no mundo dos fenômenos. Quanto mais livre nos tornamos das ambições ilusórias, tanto mais nos libertaremos do próprio ego. A seguir, não olhamos mais para o mundo sob o açoite do medo, ou cheios de esperança, mas puramente como se ele fosse um objeto. Verificamos que todas as coisas surgem e crescem eque retornam sempre à raiz. Vêem-se giganescas energias desencadeando-se feito aguaceiros e ciclones, mas nenhum ciclone dura toda a manhã; logo passa. Reconhecemos como as armas são fortes, mas não são vitoriosas; vemos como a árvore é rija, mas é abatida. É do sofrimento que depende a felicidade. O sofrimento está à espreita da felicidade. Através desses conhecimentos, conseguimos eliminar o eu, porque é este pequeno eu que considera o diminuto espaço entre o nascimento e a morte como sua vida, é esse eu que é a verdadeira causa de toda ilusão. Ao desejar algo para esse espaço de tempo e tratando de realizar o desejado pela magia do nome - pelo qual primeiro vem o conhecimento do desejado, que, por seu turno, causa o desejo - , surgem todas as teias que ocultam o Tao ao consciente. Assim, a própria graça é inquietante e a honra um grande sofrimento, simplesmente por causa da personalidade, que tudo relaciona consigo mesma. Esse eu-personalidade precisa estar constantemente inquieto, tanto quanto lhe acontece receber uma graça ou quando lhe acontece perdê-la, suscedendo o mesmo com a honra. Eliminada a personalidade, não existe mais nenhum mal. Pois o Tao age com segurança soberana, mesmo quando os desejos obscurecem o eu; até mesmo esses desejos são feitos do Tao, segundo leis fixas. Nada poderia ser diferente do que é. Trata-se apenas de não obstruirmos o caminho. Desse modo, a imagem do mundo fica isenta de ilusão e é puro, e assistimos ao jogo da vida com a quietude interior. Sabemos que viver e morrer é o mesmo que entrar e sair. Se seguirmos a lei eterna sem nos apegarmos a nada, sem nos deixarmos endurecer e cristalizar em ponto algum, permanecemos no fluxo do Tao e as forças da morte - que só podem atacar, quando no indivíduo se slidificou - não terão mais poder sobre nós. Assim o caminho exterior, através da existência, é um caminho para o Tao, que se desdobra na existência quando estamos livres da ilusão e somos capazes de assistir, em pura contemplaça~o, a obra-prima da mãe eterna, que tece os fios e os deixa fluir como os jorros de cascatas, ininterrupta e incessantemente. Porém, sabemos que esse véu é vivo, está em constante movimento, não conhecendo demora, nem desejo, nem ego, nem duração. Tudo flui.
O outro leva pelo não-ser. Através dele chegamos À contemplaçã das forças ocultas, à união com a mãe. O que antes era apenas um espetáculo, agora é vivência. Chegamos à unidade sem par, à porta escura de onde brotam o céu e a terra, todos os seres e todas as forças. Esse é o caminho da solidão e do silêncio. Nele surgem lampejos de conhecimentos de que não podemos falar aos outros e que devemos venrar em silêncio. Esse caminho do silêncio nos distancia muit de tudo o que é pessoal, porque o que é pessoal representa apenas o invólucro perecível com o qual nos movemos, à medida que andamos pela vida. Esse caminho exige, no entanto, uma preparação. É preciso trabalhar a alma de tal modo que ela seja capaz de manter a unidade sem se dispersar, porque o critério é este: quando um sábio da mais elevada categoria ouve a partir do Tao, permanece com ele; quando isso se dá com um sábio menos elevado, ele vacila: ora tem o Tao ora o perde. Mas, se se quiser alcançar a entrada do santuário mais íntimo, será preciso ultrapassar essa vacilação. A primeira coisa é a unidade completa. Depois vem a flexibilidade das forças psíquicas. Nenhuma tensão deve permanecer assim como ela existe em estados forçados de unidade, porque a vivência deve surgir de modo totalmente simples e suave. As forças interiores devem começar a fluir e a vencer os obstáculos. É necessário chegarmos à condição de uma criança, que pode fazer todos os esforços sem se cansar, porque é relaxada e descontraída, não-endurecida. Essa liquefação interior não é, no entanto, uma distração, mas um nível que tem como condição prévia a continuidade de concentração. A normalização é que não pode mais fracassar, porque se tornou constante. Só popsteriormente é possível a instrospecção, porque nesse momento o espelho da alma é limpo e tão dócil que não quer mais fixar nenhuma impressão, mas segue sem resistência os estímulos que assomam das profundezas. Temos agora a vivência de como se abrem e se fecham as portas do céu. Contemplamos o invisível, tocamos o impalpável. Estamos além da existência, estamos nas profundezas, junto às origens. Somos testemunha dos processos ocultos da vida e nos mantemos serenos e dóceis como a ave fêmea com o ovo, que ecerra o segredo das vida. E o ovo se abre. Dá-se a união com o Tao final. O filho encontrou a mãe...
Agora surge a grande certeza que penetra tudo, o reconhecimento salvador da unidade sem par. Mas desse reconhecimento resulta a possibilidade de não querermos mais consolidar e separar os opostos em sua aparência, mas aceitá-los e reuni-los numa síntese mais elevada. Reconhecemos dentro de nós mesmos o masculino criador, mas também o feminino receptivo; reconhecemos a honra que temos e também permanecemos voluntariamente na vergonha. Por isso, livramo-nos de todas as misérias pessoais e voltamos à simplicidade original. Quem reconhece desse modo a sua condição filial e conserva a sua mãe (a grande mãe do mundo, o Tao),não corre perigo em toda a vida. Completa o pequeno, conserva a flexibilidade e, por isso, mantém-se livre de todo o sofrimento. Quem sabe preservar desse modo a sua vida, também não teme o rinoceronte nem o tigre e é capaz de passar no meio de um exército, sem armadura nem armas. Pois não tem nnhum ponto mortal qe possa ser ferido, já que nele nada há que oponha resistência.
A partir desse conhecimento,ele também ordenará a sua ação. Sempre irá efetivar o que ainda não é e ordenar o que ainda não entrou em confusão, porque justamente aqui já estão as sementes que existem no invisível (...). É preciso trabalhar sobre essas sementes, a fim de que o que nelas fora depositado possa se desenvolver com o crescimento, sem que ele próprio se esforce ou sem que haja interferência exterior. Essa influência orgânica das sementes é o modo decisivo de trabalhar de quem alcançou o Tao. O que for plantado desse modo não será arrancado. O bom caminhante não deixa rastros. O bom guardião não usa fechadura nem tranca. A verdade é que quem tenciona trabalhar sobre as sementes revela sua força secreta no fato de deixar que as forças opostas se efetuem a princípio calmamente. Primeiro devemos deixar que se expanda completamente o que pretendemos comprimir. Só quando uma das forças se aproxima pela atuação do esgotamento, proporciona oportunidade de ser superada facilmente.
É justamente essa a diferença entre o caminho do Tao e o caminho do conhecimento. O caminho do conhecimento leva cada vez mais longe no mundo; busca, explora, armazena cada veis mais fatos. No, entanto, para atingir o Tao é necessário ir cada vez mais para o interiro, até alcançar o ponto de unidade, onde a personalidade individualizada entra em ontato com a totalizade cósmica. a partir desse ponto, abre-se a possibilidade da contemp´lação cósmica. Sem sair pela porta pode-se conhecer o mundo. Sem olhar pela janela, pode-se contemplar o sentido do céu. O que está nesse ponto não caminha e, não obstante, chega ao fim; não olha para nada e, no entanto, tem certeza sobre tudo, não age e, conudo, leva tudo à realização.
Desse modo, o que tem o Tao levaráa sua vida como uma pessoa, mas o que é pessoal, a máscara do eu, não o enganará mais. Ele vai representar seu papel, como os outros, mas se manterá distante da agitação deles, porque se libertou da ilusão e aprecia nutrir-se unicamente da mãe.''
Que comece a ordenha da vaca-noite....

11.9.06

Across the universe

A beleza das bolhas-de-sabão está nas multicores images
que quase nunca vemos.

Furta-cores,
tece-sonhos,
dança-luzes...

É a pausa epifânica que disperta os sonhos -
cristalina imaterialidade...

Amo bolhas,
teço lábrimas,
conto passos que perderam os pés pelo caminho.

Onde ficas, quando me partes, insuspeitável ponte?
Aonde pensas que me levas, se me deixas?

Quando me sonhas,
que fazes com a materialidade de mim - imanifesta?

Sinto cheiros,
persigo bolas-de-sabão.
Traço pontos insuspeitáveis nas emoções,
Danço nua...

Te leio com meus lábios semi-cerrados, aspirado olores.
Perscrutando fontes distantes a jorrar -
acordando a sede...

Qu'é que eu sei?

23.8.06

Laiá, laiá... laiá, laiá...

De Mim labirinto à Ti espelho de muitas águas...

" Uma palavra e eu me afasto.
Uma contenção e eu deslizo.
Não posso evitar o desperdício do que jorra sobre mim.
Um olhar e eu adormeço.
Eu não desminto, mas não fico. Eu não posso...
Um deslize e eu reconstruo. Um desafio e eu retardo.
Eu esgoto minhas versões e recolho os artifícios.
Vou nadar entre os vestígios...
Um contorno e eu embaço.
E me espalho. E me perco. E me falto.
Um trinco e eu me rompo. E afundo afundo afundo.
E me solto, e despenco em abismos de distração.
Uma espera e eu não chego..."

Sonhei contigo e acordei chorada...
Dormida - descobri-nos acordadas.
Revisitei local sinistro, de Cassandricas professias...
E só então percebi que estavas lá, igualmente presa a perder-se sonhada sozinha. Nos reconhecemos com a mesma alegria peculiar. Entre cacos e cascos - famílias e carcereiros... Então fugimos, corremos, descemos pelas insuspeitáveis frestas do lugar. Frestas insondadas e estranhamente conhecidas, possibilidades de aguardo... Ousamos e nos pusemos livres, como jamais tentamos sozinhas. Afundamos a escorrer pelas escadas cujo poço parecia não ter fim - profunda escuridão. Tive medo e ti segui... Um medo de não saber de ti e de mim sem ti, então fui-ti... Chegamos ao fundo e ao olharmos para cima nada vimos - não nos seria dado retornar... Procuramos frestas com a ponta dos dedos, cumplicidade de nós que sentimos o espaço com as mãos. Senti algo e ao girá-lo jorrou sobre nós uma cachoeira de água fria e límpida - sorrimos... Víamos apenas o que tocávamos e os olhos uma da outra. Num consentimento tácito giramos na mesma direção e o que parecia uma parede de pedra intransponível fez-se porta e permitiu-se. Abrimos... E como era larga a vida lá fora, parecia uma chácara numa cidade do interior. Árvores, pássaros e uma linda tarde de sol... Você me olhou daquele seu jeito cheio de luz e chorou feliz como tudo que é belo e sem sabê-lo caminha para a morte... Sorri em retribuição e te abracei beijando-te o alto da cabeça. E foi um abraço longo, apertado, largo e cúmplice... Enfim estávamos juntas onde sempre quisemos estar e você chorava por custar a creditar... e calou balbuciado bolhas. Pingamos...

16.8.06

Girândola...

"Eis a carta dos céus:
as distâncias vivas
indicam apenas
roteiros
os astros não se interligam
e a distância maior
é olhar apenas.

A estrela
vôo e luz somente
sempre nasce agora:
desconhece as irmãs
e é sem espelho.

Eis a carta dos céus: tudo
indeterminado e imprevisto
cria um amor fluente
e sempre vivo.

Eis a carta dos céus: tudo
se move."

("Mapa", Orides Fontela) From Qualquer calmaria

"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros."

(Clarice Lispector)

4.8.06

"No es para quedarnos en casa que hacemos una casa
No es para quedarnos en el amor que amamos
Y no morimos para morir
Tenemos sed y paciencias de animal"

(Juan Gelman)

3.8.06

Em Caracolado "Crucius"

Tenho farpas, dizia: "- tenho farpas"
Que posso eu dizer senão ais
Que posso sentir a não ser esse interminável incômodo
- Náusea de mim
Tenho farpas encrustadas em minha pele como ostras
Não flechas que me atravessam
Esse eterno penetar
- punhal guardado no peito-lábio do dorso
Vagido sem cordas - silêncioso e assombrado
Tenho farpas onde não me alcanço...
Aspereza entranhada por fora, tão superficial.
Ínterim
Invisível de mim a reclamar-me olhares.
Tenho farpas e isso me basta.
Tenho náuseas - como conter a contratura de mim?
Como cortar a contextura do mim, sem blefar?
Arrepiam-se-mim as farpas: "-Calou".
E vi meus olhos arderem para além de mim - sumia...

1.8.06

Pés descalços

Na epilepsia corpórea do amor,
Tudo se me converge,
Nada se me escapa - feridas abertas.
Incurável sou...

Teria eu me enganado?
Não serei então farsante
E me darei ao luxo de -
nesses tempos de escassez -
Morrer de amor?

Delirante sou, ardo em febre,
Dá-me vida o frescor do alvorecer...
Não, trágica é a vida
E irei cumpri-la por certo.

Vagando vou,
Toque acetinado de meus pés
Enquanto lábios...
Meu amor entornarei pelo caminho.
Bela estrada de amor se olhas atrás...

20.7.06

Peixe Vivo





Milton Nascimento
Composição: Milton Nascimento


A minha alma chorou tanto,
Que de pranto está vazia
Desde que aqui fiquei,
Sem a tua companhia

Não há pranto sem saudade
Nem amor sem alegria
É por isso que eu reclamo
Essa tua companhia

Como pode um peixe vivo
Viver fora da água fria?
Como poderei viver
Como poderei viver
Sem a tua, sem a tua
Sem a tua companhia?
Sem a tua, sem a tua
Sem a tua companhia?

16.7.06

Mar - cello...

De ti restou-me...
O que de mim restou:
Lábios ressequidos,
Ossos à mostra,
Saliências recônditas
Deixadas pela dor -
Tudo apenas porções
do sagrado ritual do esquecimento
(Para todos àqueles que como eu
vivem de lembranças).
Tu, insuspeitável porta - sempre aberta...
A inquietar o sono e regelar à noite.
Calabouço, precipício, crueza sem nome -
Morte.
Adeus obscuro e insensato,
Mal inesperado.
"De tudo ao meu amor serei atento".
Silêncio atravessado na garganta.
Guardo por ti um punhal no coração...

14.7.06

Ando triste demais...

"Dói em mim saber...
Que a solidão existe e insiste no teu coração.
Dói em mim sentir
Que a luz que guia o meu dia não te guia não.
Quem dera pudesse a dor que entristesse fazer compreeender
os fracos de alma sem paz e sem calma, ajudasse a ver
que a vida é bela - só nos resta viver..."
(Ângela Rôrô)
Sax, pianos, cellos...
Cada pequeno instrumento de minh'alma
Esfacelado.
Morre uma estrela.
Noturna, noturnos na imensidão negra
Matéria escura que se me apaga
- enfim...

30.6.06

Carinho...


Não me passa nada...
Sei que ficar ao teu lado seria a atitude mais acertada...
Ciente estou, mas não posso.
Não saberia refazer sua minha vida...
Sinto não podermos caminhar lado a lado...
Nada entendo sobre seguir ou guiar.
Penso que me agradaria poder ser prática, mas sou passional.
Entratanto..., verdadeiramente não posso.
A mim tudo me é possível a não ser o que me é impossível...
Não é curioso e cômico como certas verdades vem truncadas
Sempre aparentando paradóxos ou tolices?
Claro que te amo...
Mas o que se pode deter?
Se todos tropeçamos na mesma pedra... o amor.
Quanto a mim...
Só quero caminhar...

Piano Forte...

Desata-me, minha dor
Quero ser flácida como uma bexiga e simplesmente estourar...
Hiato de mim apartada de ti,
Lábios entreabertos na escuridão - gotas de ti a me escorrer
E como mel aquecer e aumentar-me a sede.

28.6.06

Sustenido

Partiu-me...
Na secura de vida em que me encontro,
Acompanha-me a arma que carrego sem jamais usar.
Com quantos cigarros se faz uma paz que dure?
Perco você gota à gota...

Ágata

O reverso da dor é o amor que destila veneno irascível no peito.
Como deter a avalanche do amor?
Coração em brasa, olhar ardente, voz rouca e palavra esparsa...
Bebo você por não poder beijá-la, arraso o mundo porque não a encontro.
E mesmo os líquidos me atravessam a garganta como uma espinha.
O açúcar se fez fel em meus lábios e se tento beber água maior se torna minha sede.
Padeço rouco como um galo atravessado pela flecha de seu próprio canto.
Pavor e fúria na madrugada...

9.6.06

Anaitac


Nossa aliança será de corpo e alma, entrelaçadas, ardente.
O tempo só agrandará o fogo de nosso amor, brindaremos seu curso
Com nossas alegrias.
Nosso terno entrelace saberá manter seguro o tesouro que guardarmos no coração
E sempre que o amor parecer pesar estarei contigo repartindo o fardo.
Trazemos cada qual suas marcas, seu potencial ferino,
Mas não ousarei contra ti armas que cortem ou perfurem,
Ao encontro de ti só portarei ungüentos, cobertores, perfumes...
De mim para ti as amenidades que suavizam a dor do amor
E este é tão mais dolorido quanto mais profundo.
Tu que me ensinastes as amorosiades rosáceas - doces,
Com teus pezinhos azuis de quase pueril alegria,
No pavor de teus olhos úmidos, a estranhar a vida, sempre redescobrindo.
Minha vida uniu-se à tua...
A partir de agora onde fores estarei contigo e assim estarás onde eu for,
Misturada que estou contigo, faço meu o teu caminho,
Ato meu destino à tua vida - breve sonho de existir por um momento -
E dela traço chão sob os meus pés que te caminham.
Sou pássaro em pleno vôo...
Tu és ninho absoluto - irresistível pouso.

5.6.06

Estado de graça

"Lembre-se de agradecer...."
Namastê.
Luz nos olhos, perda de entropia e plenos pulmões refrescados de ar.
É como olhar em teus olhos sempre a primeira vez, cheios de ternura,
Aquosos.
Como poderia deixar de renascer ao lhe recordar - amanhecer...
Um sorriso desaba sobre mim, saio do sono.
Caminho até o alto e permaneço de pé vendo o mar quebrar...
E quando seu rosto está nítido em meus olhos abertos e posso sentir-lhe o aroma, salto.
Mergulho no frio marinho que me lembra os arroubos de você em mim,
Vou até o mais profundo e quando já perco o ar então é hora de voltar.
Reanasço repleto de você, apaixonado, pleno.
Nado até a praia e enquanto vejo a areia que se aproxima, percebo sua ausência.
Sento-me à beira mar, espero o dia ceder lugar à noite...
Só então volto para casa.
Desde que você me partiu, preciso voar todos os dias,
Experienciar essa pequena morte que nos aproxima.
Você sempre estará aqui se puder entrar sempre em contato com o que representa em mim:
Vida, frescor, começo e fim - beleza...
Eterno estado de graça, trampolim à vida...
Mesmo que nunca mais veja seu rosto,
Permanecerei sempre aqui ante a você pelo que me fez sentir.
Não há gesto não ousado e ainda assim nossa distância é exata,
Não fosse isso pingaríamos...

25.5.06

"Todas as coisas são belas"

Certa feita você me perguntou, num de nossos intermináveis encontros,
porque, ou melhor, o que eu tanto olhava em você?
Como dizer amiga...
Não sei se posso descrever o alento e conforto de olhar para o lado e ver o seu rosto, sabê-la presente.
A paz que me traz olhar em seus olhos e sentir seu calor, sua ternura.
Ser o reflexo azul que pisca em seus olhos,
Fazer parte dessa compreensão estranha, desse companheirismo mágico, desse amor sempre a me comover.
Perceber que a cada mudança que sofremos, nos acompanharmos,
Vê-la mudar e permanecer perto, juntas.
A inusitada naturalidade de permanecer e assim desejar continuar.
Afinal, nos encontramos e por alguma razão nunca deixamos de nos procurar e rever,
Sempre a querermos mais estar, compartilhar...
E bem sei de sua fidelidade canina...
Entretanto meu amor é igualmente fiel e franco.
Às vezes sinto nossa amizade como uma folha que cai... poética, inesperada ou como vento forte e frio, gostoso que me invade e alegra.
Até ter você "identidade física" era só mais um termo quase sem sentido para justificar as mazelas do direito ou abrandá-las.
Entretanto, agora, ao menos, percebo que o termo é sem dúvida um princípio...
Afinal, a identidade física principia numa cascata de sensações intrincadas que iniciam as relações e conosco não foi diferente.
Kan-Ji, implicamos uma com a outra, uma na outra... Eu, por exemplo, se não tivesse você talvez já não bebesse mais a muito, ao menos não com o prazer de agora, é como se estivesse todo esse tempo aguardando me preparando para fazer companhia a você.
Sei que deve soar um pouco atravessado, afinal gosto do que faço. Mas é que com você faz sentido o que antes não passava de contraponto de uma espera.
Você é como o mar, às vezes escuresse noutras clarea, violento e suave, oscilante-quieta e estrondosa, que mesmo nos seus dias mais sombrios é impossível não amar ou ficar estasiado a olhar sua revolta...
Eu sou a areia onde fatalmente você quebra, onde o distino sempre a traz. Como saber quem vai ao encontro de quem? Se afinal não fujo, abarco suas oscilações e fluo com elas... Anoite e a aurora não se buscam, por serem assim mesmo opostas?
O mar pode fugir, secar ou não quebrar em ondas, mas a praia só pode esperar o mar, essa é a razão de seu existir - fazer companhia, estar ao lado, ter o privilégio de sempre ver o mar de frente.
Ah, é terrível... Estar vulnerável não me assusta, mas contigo tenho ainda menos medo. E sei que a partir daqui aspalavras me serão negadas, por pura ausência... Manterei meu espírito em paz porque o que estou a lhe dizer situasse no espaço entre uma linha e outra e só pode ser percebido no silêncio místico da epifania - e, em verdade, estou certa de que o ouvirá.
Você já pensou como dizer a quem lhe é caro tudo o quanto sente através apenas de referências? Não poderá falar ou escrever, mas mostrar uma música, imagens, cheiros, toques, olhares, tons, luminosidades, sabores, os mais diversos estímulos externos.
Seria difícil e belo - quiçá doloroso como quando usamos a linguagem (que nos é exterior e, porque não, estranha) para expresar nossas sentimentalidades só por estarem embebidas de nossos mais íntimos sentimentos... E, sobretudo, será de um risco imenso e por isso exigiria uma coragem maior ainda.
E pensar que continuo me perguntando, todos os dias e noites, do que enfim tenho medo. Não sabia que esse seria meu enigma... Será que serei docemente devorada pela Esfinge? Seria grata...
É assim que vejo o mundo... Através de minha vida amorosa, cheia de amores, de momentos cálidos, ternos. Repleta de gestos e registros de emoções vindas do amor que se acendia a cada visão de um ser amado: irmãos, amigos, amantes, grandes e singelos encontros de alma, repletos de afeição.
Visage = visão-miragem, torvelinho do outro. "Você é minha vida amorosa", aplico aqui essa sabedoria que me despertou e tocou fundo. Ora, se a minha vida é repleta de amor, nada de adorável que nela aconteça escapa ao universo de minha vida amorosa. Então se assim o é, uma vida plena de amor é toda ela, em sua integralidade, adorável...
Por isso me sinto plena sempre que penso ou rememoro você, embebida de amor, sou exatamente o que sinto e como faço. Afinal, não é isso que somos para os outros: aquilo que tocamos nele ou no mundo, como sentimos e nos fazemos sentir?

24.5.06

HAI-KUS ou HAI-KAIS

"Vem cá passarinho
E vamos brincar nós dois
Que não temos ninho."

"A vida é bela
Basta saltar
Pela janela."

"Não esmaguem a barata
Sua nojeira
É inata."

"Goze.
Quem sabe essa
É a última dose?"

"Eu também, consorte,
Não estou condenado
À pena de morte."

"Quantas palavras de amor
Morrem
No apontador?"

"Não questione
Por que o caracol
Carrega um trombone."

"Diz pensar livre pensar
Livre-pensar
É só pensar."

"Santo de verdade:
Um egoísta
Da generosidade."

"Na penumbra, a sós.
Quando a luz se acende
Já não somos nós."

"Por que lutam os bravos?
Querer liberdade
É coisa de escravos."

"Nunca esqueça:
A vida
Também perde a cabeça."

(Millôr Fernandes)

16.5.06

Tropeçando em meu próprio pé...

Estou aqui toda sua, a sua disposição...
Não sei o que nos acontece... O que sei é que quando estou presente, estou inteira, entregue. A sensação que tenho é que você não me dá um desconto, normalmente estou bem mesmo com a núvem cósmica sobre a cabeça, entretanto, se uma única vez reajo divergente de suas expectativas você me cobra e toma minha reação ou não reação como uma afronta, uma ofensa pessoal.
Não vou discutir com você e possivelmente nada do que estou dizendo fará qualquer diferença, entretanto está dito. Você não é o inimigo e muito menos minha adversária, não vou reagir violentamente a você.
Você é minha vida amorosa e isso não vai mudar, embora não saiba ao certo o que quis dizer com: - "Espero que você fique assim por muito tempo".
Nunca haverá razão para brigarmos ou nos afastarmos, mas já não sei o quanto também pensa assim. Na verdade fui atropelada por um trem que nem deveria estar passando, de súbito.
Ainda estou digerindo o que houve, em verdade não tenho uma posição certa. Só acho que ultimamente sua reação está alguns tons acima do que digo ou não digo.
Ontem estava um pouco cansada e muito silenciosa e estática.
Eu estava um pouco calada e quieta, e só ...
Não tentava estragar seu dia ou piorá-lo. Tudo bem que você esperava um abraço e alguns beijos, como normalmente acontece, entretanto eu não pude fazê-lo e sinto muito.
Você reage com violência já eu reajo primeiro escutando, depois emocionalmente e só depois de devidamente digerido é que me manifesto.
Por isso eu me calo...
Preciso pensar as coisas antes de dizê-las para que não ponha os pés pelas mãos, só isso.
Eu só queria que você estivesse sempre aqui...
As vezes até não estou lá essas coisas, mas sempre quero você perto.
Alí onde eu pudesse, ao menos, ver e desfrutar um pouco.
Ultimamente tropeço em meu próprio pé como se ele não fosse parte de mim...

30.4.06

Visage

Visão, miragem... torvelinho do outro.
Foi em meio ao frêmito dessas sensações misturadas que percebi - despertei.
Com que ternura escutei...
- Você é minha vida amorosa.
E já não pude precisar o que se sucedia, e porque não pude frear então flui.
Despenquei no púrpureo vinho de tamanha sabedoria,
E quão embebida me tornei - diria mesmo enebriada...
Flutuei e afundei qual curtiça caprichosa.
Creio que desmaiei ou simplesmente estive em transe...
Vi uns olhos tão azuis cheirando a mar, senti a brisa com cheiro de luar florido;
Ouvi risos, perdi a voz...
Deslizei quente e macio, chorei e meus olhos se abriram como nunca.
Tinha acabado de ser incluída numa vida repleta de amor,
Tanto amor e tão despreendido que não temia, não sentia culpa.
Depositar no outro, fazer de sua vida a sua vida amorosa tornaram aquele ser especial
E ao mesmo tempo me elevou a uma importância antes insondada

27.3.06

Soul Blue

Eu sinto tanto... sem sequer poder libertar-me do que sinto.
Ontem suas lágrimas e desepero tão característicos,
A familiar desesperança desatou-se como uma elástico ou flecha
Que simplesmente se soltasse com inteireza.
E tive tanto medo...
Um medo assim de mim sem você que dispara
Sua eterna flecha sem alvo.
Copioso desata sua dor em mim sem segredos, em desalento.
E eu só sei sentir, me é atávico, só sei estar, imergir...
Que diria eu que pudesse aplacar seu pesar eterno e antigo?
Saberia? Poderia mesmo, eu, ser portadora de alguma paz que se presenteasse?
Diafána e jamais arrogante?
Então tudo fez-se silêncio, acolhedor, cúmplice, quase em paz...
Toquei você enquanto chorava,
Seus olhos de um negro imperscrutável, denso.
Estive presente mas não falei palavra,
Não queria ofender sua dor tão particular quanto única.
De todo azul que em você se produziu não usei um gota sequer,
Não plasmei seu sofrer como um quadro
E sim como um suspiro...
Suspiro que se queria último e lamentava saber que não estava acabado.
Ainda..., ainda...
Um mantra sofejado eternamente e a contra-gosto,
Convulsionado.
Por nada poder fazer eu nada fiz - e isso já é tanto...
Que posso dizer? Estou aqui.
Estive, vi, fiz parte e nada mais.
Só quero que saiba ... Se não puder ou quiser,
Quando não for mais possível e se preciso for...
Perdôo você...

23.3.06

A vida oferecida como dança

Noite alta e sua ausência lenta e rasteira...
Que faço..., onde estou?
Não tenho para onde ir, de onde partir ou por quê?
Deslizo como uma valsa triste...
Eternamente cantada por um músico enebriado,
Que já nem sabe de si ou da valsa - em êxtase.
O amanhã tão aguardado me custa, o tempo escorre como mel
Segundo a segundo...
Permaneço, eternamente a espera.
Eu te amo tanto, tanto...
Perdôa, sei que é cruel e inevitável - te amar, temer...
Amo baixinho e rubro como o sangue dentro da veia,
Sanguenolenta e discreta, mas pulsante.
Bailo estonteada por ti, em transe onírico...
Sorvo o halo de tua chegada longíqüa.
Amo e permaneço amando,
Amém...

1.3.06

Onírica

Tive um sonho estranho
que por alguma razão me retirou a paz.
Imagens vagas e difusas de um temporal sobre minha casa.
Tudo de repente se transfigurou... O que era uma conversa casual, tão comum, entre amigos
De um mal entendido fez-se uma tempestade.
Ventava ao ponto de termos que nos agarrar aos objetos da casa para não voarmos,
Então dois raios caem: um na sala e outro em meu quarto...
Assistia a tudo atentamente.
Houve um grande cataclismo mas salvaram-se todos, mesmo após tudo ser perdido ou despedaçado à nossa volta - sobrevivemos.
E então o medo de olhar o desconhecido, o medo de ver o que não compreeendo.
Fatalmente postergado e inevitável - vi-o...
Havia desejos escusos e destruição, pensamentos impuros vindos de estranhos, indefensáveis.
E é tão forte quanto inexprimível - só poderia ser experienciado.
Cá estou com esse sonho guardado e por mais que o conte, persiste ainda.
Não sei dele, mas sua sensação me sabe inteira e me toma.
Depois dele sinto-me como que sonhada...

Prelúdio

Figura minúscula, quase olvidável: imprecisa, efêmera, cálida. Grandes olhos castanhos que às vezes verdes ou azuis e que são assim grandes desde o primeiro e insuportável espanto: nascer.
Os pés são azuis. Não por terem nascido assim, mas porque os pinta de azul para lembrar-se de que abixo de toda complexidade há aserenidade tranqüila e simples - ao menos cromatismo.
O sorriso num estourar colorido de fogos de artifício, formando agradáveis mandalas e efêmeras no céu noturno, sem pesar. Mas com o mesmo artifício de tristeza e alegria convulsos, cúmplices - sublime transitoriedade.
Leve..., pequenos dedos suaves e imprecisos, aparentando não encontrar lugar e por pura indecisão ora pintam ora escrevem, ou deixam-se quedar desconfortáveis e curiosos sobre as formas e texturas.
Pequena. O que a torna grandiosa pela peculiar capacidade de ocupar os espaços mínimos; encaixar-se como chaave-mestra capaz de perscrutar todas as pequenas portas, e somente essas, todos os lugares recônditos.
Nascida antes de uma grande pausa e após uma vírgula que nunca foi colocada. Então ficou sendo assim misturada, incerta, fruto do indecifrável silêncio seguido de um sim.
Por conta desse pequeno problema de pontuação teme o grito; talvez porque esse não possua meio, ínterim, só início e fim. Talvez porque o grito gozoso ou espantado seja sempre o descalabro do inominável e sem razão.
As questões a atordoam e o grito sempre inesperado vem e vai avassalador e a deixa fria, petrificada e inconsolável - devassada pela surpresa da coisa-viva que grita e espantada por experimentar o desespero dela, feito seu num vagido.
Ser efêmero é desafiador, um assombro, é desconcertante... Como negar que a coisa-viva do outro convulsiona quando seu grito atinge em cheio nossos tímpanos? Ah, ele despertou... Descobriu que está vivo e que pode num estalo não mais estar.

27.2.06

O amante

O desprezo do amante... Como não desprezar tal ser que nos rouba todos os preciosos momentos e dá forma a nossa dor? Como, se até mesmo o nosso vazio agora é dele?
Amar alguém possivelmente é a coisa mais horrenda que há, posto que funde numa málgama perfeita o sublime e o terrível. Estupefaciante como uma esfínge egípcia - monstruosamente bela.
Sublime e terrível ser amado que inquieta e comove. Como dirigir-lhe a palavra sem uma pausa - suspiro - de receio e recato?Desprezar - desejar, amar - odiar, sem dúvida sinônimos.
Perceber essa tênue implicação não altera o curso dos acontecimentos e por isso mesmo é vital.
A fatalidade adorável e a tragédia desejada constituem o amante e ao entrarem em combustão o tornam irresistível. Assim é, e assim deve ser... Senão não há ser amado e não há amante, e, muito embora possa haver amor, não há beleza, não há arte possível.
O amante: Caos-Amante, causa-amante. A fórmula caótica e efêmera do fogo e do artifício - calor e desordenada beleza.
O eterno mistério de sua presença, a brúmica solidez de sua aparição.
Quando o presente soa distante e a ausência se faz constante, temos o amante.
Sol eclipsado e nem por isso menos belo. Desespero, prazer e irresistível fluir do tempo...

Por todas as janelas

Amo as pessoas...
Mas não as amo enquanto seres iguais a mim, as amo enquanto metáforas.
O sentido que podem ter em minha vida, é isso que me encanta nelas, é por isso que as busco...
Uma mulher na janela só tem significado para mim que passo e me emociono com ela. É o contraponto entre mim e minha emoção que pulsa..., pulsa e vê a mulher na janela, talvez alheia de si, mas que agora contrasta com minha emoção.
Meu olhar toca a mulher na janela, agora inesquecível...

20.2.06

Minha chegada, tua alegria, nossa saudade...
Partir-te, implicar contigo
É tão inquieto, só...
Tudo que eventualmente aprendi
Ou simplesmente relembrei, que impota?
Terrível instante, eterno.
Ser só e não o querer...
Precisar ir-me...
E ir-se não comporta companhia.
Aceito e não compreendo...
Toda uma vida juntos,
Tanta proximidade...
Intimismo comunitário, nosso.
Dolorido, sangrado deixar-me ir.
Tão despedaçado e sem sentido...
Partir, ficar - sempre aos pedaços.
Eu implico em ti, tu e então nós...
Por isso de tudo se faz saudade
Lágrimas, silêncios e abraços.
Como poderia não ser assim?
Esse prantear sozinho à noite,
Esse desalento...
Desassossego de mim, de nós.
E por não entender escrevo,
Por não dormir e precisar chorar...
Gate, gate, paragate, parasamgate, Bodhi Svaha
(Foi-se, foi-se, foi-se para além, foi-se completamente para além)

17.2.06

Abissal

Hoje sento para escrever por sequer conseguir manter-me de pé... A vida é tão flúida que já não consigo alcançar minha etérea natureza. Distante de qualquer possibilidade os únicos companheiros que me vêm a mente só me têm dilacerada: o gym e o wisky.
Pensei até em fazer um preparado farmacologicamente equilibrado de ambos, quase letal...
Por que essa necessidade de perscrutar a chaga, estirpar-lhe a tênue camada que se quer sarar? E que fazer da inquietação desconfortável de saber que estar são é abrir-se ao sofrer? Desolada por saber, mesmo sem querer, que tudo fatalmente passa, acaba e recomeça. É impossível parar, não há um ombro sequer na trajetória cósmica onde se possa descançar eternamente a cabeça e chorar, para além de qualquer explicação...
E sempre chego nesse vertiginoso penhasco que flutua no espaço e é o mesmo desespero de saber que pular é só sumir, nunca morrer, apenas não ser visto...

5.2.06

Diante de tua ausência

Frente a frente com o que de ti não está,
Aos teus pés entregues na distância...
Tua indelével presença a me atrair.
Como seria o silêncio sem ti? E as auroras sem esperanças ou calor?
Soltos no vento, flutuantes, sem razão.
Meu ponto - pausa a desconvulcionar-me a escrita.
Respirar..., atar-se à morte.
Eu-crisálida tentando romper-te
E que imenso pavor estar, enfim, livre de ti...
Só te sei, presença irracional, vontade de não ser.
Estar em ti, ser-sendo nós. Contínuos, interligados, univitelineos...
Sentir, sen-tir, sem ti...
Onda quebrando em ti eterna praia.
Sempre te buscando, te tocando, nunca te alcançando.
Sendo e não sendo por ti.
E só me sei tu a me prescindir, horizonte distante.
Sempre belo, sempre longe, além...

3.2.06

Acabo de ler as palavras que dedicastes a mim, confesso que as li um tanto sobressaltada e emocionada.
Há tantas coisas que sinto por ti e que me são totalmente sem sentido... O que poderia dizer além de obrigada, assim, alma à alma? Sabes o quão importante me foi tê-la reencontrado e redescoberto, nessa vida circular que levamos. E que bom saber que de um modo ou outro estaremos sempre aqui e sempre juntas...
Pensei em ti escrever baixinho, quase sussurrante, num comentário discreto no que me escreveu. Mas por que não permitir que tantos quanto desejem possam ver o que sinto por ti? Por que só dar ao mundo notícias de nossas baixezas, nossa face oculta? Então cá estamos...
Sabes que é cara a mim toda emação de tua individualidade, plúrima e oscilante; que também me pego amando porções insondáveis e quiçá ainda não descobertas por ti, do que és ou podes vir a ser.
Foi quase por acaso... e digo quase porque somos tão obcessivas que possivelmente tenhamos planejado tudo em nosso último encontro; e com tamanha riqueza de detalhes que nem mesmo nós pudemos acreditar.
É tão reconfortante tê-la junto a mim, ao menos as saudades que sentiria de ti me fazem resistir, continuar. Saber que te lembras de mim e não te esquecer mantém-me viva e pulsante, rubra como um coração que bate sem pensar em parar.
Afinal, é pelos outros que vivemos... Então assim sigo, vivendo um tanto por ti e para ti. Sempre aqui ao teu lado, mesmo longe, não desistindo por ti e por ti seguindo, contigo...
Assim me sei, pé direito sempre a olhar para o lado, sempre a te precisar e a me apoiar em ti e contigo ser um corpo, estar de pé...

31.1.06

Adoro balanços... Tênue, exatamente elevado do chão e suspenso no ar - precisão possível.
A existência pendular sempre me atraiu, o vir-se-já-se-indo, o ir-se-já-voltando, o "desossar das horas"...
Pendular, pendular, o quase intrínseco.
A dor que salta no abismo e quando a ponta de seus dedos toca o chão inevitavelmente cansa e arrefece.
Tudo salta de um trapézio à outro no picadeiro da existência.
Pendular..., tender, estar, fazer da incostância moradia.
Nesse quase-êxtase que de tanto se repetir nos faz acreditar que é eterno.
Esse sempre à beira de, esse quiçá, essa eu-foria... E então, no instante-quase o chão.
Pendular o quase-aço cortando o corpo. A distância infinitesimal que parece eterna.
Eu-sonho, eu-quase, eu -Ícaro querendo acreditar que meu ir-se será sempre-já-voltando, mas eu canso, eu pauso simplesmente e sem querer, eu desço do balanço-pendular e sua paisagem eternamente vista da janela, inexperienciada.

30.1.06

Chandon

Tu me prometestes amorosidades
Tua luz emanado trazia
Iluminuras ao sol
Brilho, franqueza e integridade.


E eu quis o fruto maduro escorrendo.. Como eu poderia pré-sentir que te feriria? Lembro-te sem pretenções, sem apegos. Sei que também assim me esqueces.

Gostaria de ter-te amado antes, quiçá melhor, mas vivo. Mariposa boliçosa - viva, aflitiva, inquieta...
E tudo se deu tão convulsivamente, ainda que cheio de harmonia e graça. Rápido,efusivo e inconsciente... Incogniscível.
Parece sempre afeto (nos implicamos, afetamos mutuamente), solidão e deslumbre. Fenecer, entardecer, renascer... Agrada-me considerar tais coisas, me acalentam.
Toco com a planta dos pés a areia fôfa e morna abraçando meu corpo, tão semelhante a qualquer implicação sua em mim.

27.1.06

Para minha amiga

Estive com minha cara amiga a pouco, havia dormido em sua casa e no início da tarde nos despedimos. (Estou alegre por revê-la...) Naquele momento, com semelhante emoção a abracei ao nos despedirmos...
Demos um abraço demorado e entregue, então lhe perguntei: - Você compreendeu o que lhe disse quando a abracei? Ela me olhou nos olhos e falou: - Mas você esteve em silêncio...
E eu sorrindo, condescendente e orgulhosa continuei: - Era isso, não tinha palavras. Então ela calou, me olhou bem nos olhos, terna, e quando cheguei à porta ainda me soltou um beijo.
Refiz meu caminho para casa a pensar: - Espero que ela tenha compreendido... Naquele silencioso abraço em que eu a envolvi cálida, angustiada, saudosa e serena, a amei. E o que me inquieta não é a incerteza de ela ter me entendido, até creio que o fez.
A questão que se me apresenta é: por que ela talvez tenha temido dizer-me que me entendeu com outras palavras, de outra forma? Por que talvez não tenha querido admitir que sabe da impossibilidade? Por que talvez tenha chorado para dentro, já que toda visão de fora é sempre transbordamento - visível ou não?
Por que não admitir que embora não tendo compreendido fez parte, esteve presente e atenta? Por que talvez tenha temido partir meu coração, se como o ovo o coração do outro só é alcançado quando a casca é rompida?
Por que? Talvez por não saber que também sei da impossibilidade de saber.
Tudo bem amiga, fica entre nós, pré-sinto a sua aflição... Mas já aceitei que nada nos é dado saber, somente supor e suponho coisas maravilhosas vindas de mim para você.
Sinto que nosso silêncio é nosso ponto de conexão... Ficamos bem juntas em silêncio - tênue afinidade. Sei que quando pergunta como estou deseja me ajudar embora saiba não poder...
Sei que quando me mostra uma música ou indica um livro está dizendo: - vem cá, olha o que me afeta... Quero que faça parte do que toca a minha vida; quero ter você por perto mesmo que não entenda as coisas que amo, quero que caminhe comigo..., sua simples presença me agrada.
Eu compreeendo, mesmo sem entender... Porque eu pré-sinto, porque não tenho medo de errar e isso me abre como uma flor, sem pudor, disposta a ser polinizda ou decepada - entrege...

Libélula

Frêmito e beleza... Disso é feita a tessitura da vida, qualquer vida.
Nas entranhas da coisa viva há um bater de asas convulso e gracioso de espanto e beleza, em estado puro. De uma beleza não conceitual, terrível, avassaladora - beleza antes da beleza mesma.
Prenúncio, aroma do desabrochar do belo que pulsa num deslizar de lesma, lagarta que com seu exotismo promete a borboleta, quiçá bela, no entanto inegavelmente alada e flúida e graciosa...
Quaquer vida farfalha... Tudo flutua entre frêmito e formosura, tudo viceja nas entranhas rosadas e pulsantes que uivam sua vida, seu estado vivo.
Essa meditação inconsciente e inescapável de ser - viver, ulular.
Vida libélula, sucessão de paisagens vistas das janelas da alma. Sempre a passar, repleta de intocadas possibilidades...
Não compreendo... E como é livre e suave experimentar ser uma núvem ou uma árvore - nada sabem e que frescor isso lhes traz.
Dissecar, classificar, definir, como conceber tal idéia? Usurpar da forma mais vil a coisa-viva, do que o outro é feito..., querer dizer o outro.
Caio de joelhos, sobressaltada e em prantos.
Perdão, ser humano é perverter o mundo, adoecê-lo...
Eu não entendo e aceito... Não quero, não devo, não posso entender.

26.1.06

Estudo

Vagalume - vaga e lume
Onda luminosa, incandescente.
Lume - lumière - luminoso - iluminescente
Pirilampo...
Vibração que incandesce,
Estremecer que é chama - que se inflama,
Tece a chama que não queima quando aquece...
Agonia luminosa, idéia genial do corpo.
Clarescência da matéria que se agita,
Aflição de luz que se materializa:
Tocha, lâmpada, flama-matéria que se aquece...
Vago incandescer, vaga de vida que se enfurece.
Alumiação do ser em matéria ardente que enlouquece.
Luz que se faz matéria,
Matéria que se torna luz - louca, luminosa que estremece...
No frêmito orgiástico de sua manifestação - andaluz.
Na calma florescente do seu calor,
No fogo incostante do seu existir...
Viva e tremeluzente vibração alegre - estupefaciante maravilha...
Nhock!...
Uma lagartixa acaba de devorar o vagalume.

Para usar da próxima vez que pedir um abraço

Me abraça.
Me envolve,
Me acolhe,
Me adequa a porção de nada que é você...

Me abraça.
Me liberta,
Me junta a você para que,
Por alguns instantes,
Eu me sinta livre...
Separada de mim...

Me abraça.
Me toma,
Me protege,
Me dá teu alento...

Me abraça.
Aproxime-se de mim,
Seja comigo...
Deixe-me ter a ilusão de que não sou sozinha.

Me abraça.
Esconde...
Constrói uma ponte...
Sobre o abismo entre nós.

Me abraça.
Dá-me de si...
Como se nada fosse me retirar.

Me abraça.
Me toca...
Com a porção mais superficial
E ilusória de si.

Me abraça.
Me abraça. Me abraça...
Me abraça e não diga nada...
Não rompa esse silêncio quante e aconchegante
Que emana de si.

Me abraça.
Me - abraça...
Me abra - ça.
Me abraça, me prende, me laça...

Me abre pra isso...
Me expande ao tocar.

25.1.06

Stand by

Diante de ti esse olhar, mesmos gestos inquietos, imprecisos...
Profusão de possibilidades, próximas, distantes, todas reticentes.
Te amar, a mar, estar a deriva. Teu frescor, minha brisa.
Tua presença, minha humanidade possível.
Esquecida de mim tu te manifestas, inteira.
Quis ser aquela que te toma sem limites,
Entregue, fluida.
E no entanto foste tu que me tivestes plena,
Coisa tua, sem receios.
Tu que és meu paradeiro e morada, terra minha, pátria.
Diante de ti os mesmos olhos aflitos, lacrimosos.
A espera de um gesto, um toque.
O desabrochar de mim em ti.
Meu tempo, minha bússola...