28.9.06



A cura e a tortura...
De que imagem trata o brinquedo?
Com que brincadeira cura-se a crueza da realizade?
Va savoir...
Quem o sabe?
Curar-matar, morrer-viver, sarar-sangrar, limpar, conter...
Os descaminhos do ser - ruma à luz?
Quiçá - Heyokah - quiçá!

"Quando giro fico tonto...
Fico tonto e danço zonzo.
E se tento parar - a náusea.
Desacelerar? talvez...
Só sei que quanto mais rodopio,
quanto menos vejo, quanto mais me entrego...
Breve, breve, vem o tão sonhado tombo."

(Sobre giros e tombos - CRIANÇA. Qualquer, Fora de catálogo)

20.9.06

Ausente... Ímpar... Negro...

-Tem uma brexa, tem uma brecha... Gritou de espanto, mas como toca-la sem vê-la, se a força do vento que por lá escapa, me arrepia os cabelos?
Não cantou...
Muro absoluto, antigo – porta-de-destino.
Eu prisioneiro utilitário, a cavar cada vez mais fundo, a trazer a superfície água tão límpida...
Tem uma brecha?

Aonde irá a terra em minhas unhas, até quando meu Deus? – Até quando?
Por que sei, se a escuridão úmida e só do que me aflige não pode por si mesma libertar?
Onde irei, se dizem que a Terra é redonda, se as margens nunca chegam a aportar, se as linhas nunca tocam minhas mãos, se há âncoras sem fim a me tragar?
As frestas a balbuciar-me sonhos, a mente a proliferar insanos, as mãos inquietas nos desvãos, o cenho a ferir-me e a sangrar...
“Levanto meus olhos, aos montes, de onde me virá o socorro?”
“Socorram-me subi no ônibus em Marrocos!”
Falando absurdos, sigo sozinho o meu descaminho.
Questões que me atormentam e constroem,
Silêncios que ressoam como dardos, atravessam como flechas com seu susto o coração...
Que teço enquanto calo, que tenho do que cavo? Se minhas águas saciam sedes estranhas e me brotam as águas das entranhas – dá aridez de mim a desgastar...
Tenho medo... Tenho farpas... Tenho sonhos... Sinto sede...
“Como pode o peixe vivo viver fora d’água fria?
Como poderei viver?
Como poderei viver?”
Tem uma brexa, meu Deus, caio ou saio?
Onde me leva o incessante cavar, cada vez mais fundo, cada vez mais árido?
Tenho frestas, onde não consigo ver,
Mas como me partem... Evasão de mim.
Para além que não posso desfrutar...
“Onde estás que não respondes?”
Onde respondes que não estás?...
A chuva escorre pelos vidros ou a vida escoa pelas brechas?
Em que lugar não há arestas?

“Silêncio.
Não há banda, não há orquestra – tudo é uma gravação...”

13.9.06

"Depois volto e preparo um café pra lhe saborear"

Vinho branco - seco ao primeiro gole, transparente e lúcido.
Translúcido-ser...

Poço absoluto - cais...
Fonte de águas tão límpidas,
Trazidas das trevas, do fundo silêncio de si.

Com que veemência derramas-me
O mais sombrio mistério de tua liquidez.

O poço dos olhos d'água, totalmente insuspeitável...
O escuro arredio e sensível - imerso no azul ininito.
- Sabes? O fundo do mar é negro...
O frio e silente é sua natureza mais pofunda.

Trazes nos olhos a mística óbvia da amplidão que tanto amas.
E eu a amar quieta a imensião do que desconheço.

Vinho branco?
Translúcido-ser...
Bebo o negro de ti a vagar.
Em que gole encontras no negro do outro a presença que procuras?

Circunlóquios

"O caminho que conduz para fora do labirinto do mundo fenomenal, que conduz à eternidade... Encontrar esse caminho e partilhá-lo significa alcançar o Tao. O caminho para a obtenção do Tao é duplo: um conduz à existência, outro conduz à não-existência. Quando são orientados para encontrar o Tao na existência, os fenômenos devem ser observados de tal maneira que não se fique enredado neles. As formas exteriores do Tao, sendo este a origem de tudo quanto aparece, são: o alto e o baixo, o belo e o feio, o bom e o mau. No entanto, procura-se me vão o Tao na realizade dos fenômenos, quando se term objetivos e intenções. Quanto mais se explorar o mundo com objetivos e intenções determinadas, quanto mais se cultivar a ambição, quanto mais se quiser ou se fizer algo, tanto mais se ficará enredado no isolamento. Nesse caso, não faz nenhuma diferença para onde a nossa aspiração se volte; se buscamos prazer, cores, sons, guloseimas, jogos excitantes, bens raros, o efeito de tudo isso é apenas um enredamento mais profundo na ilusão. Trata-se igualmente de ilusão, quando o objetivo for cultivar a santidade e a sabedoria, o amor e a responsabilidade, a arte e o lucro, a erudição e o conhecimento, poi isso tambémprovocará a excessiva acentuação de um dos pólos, o que forçosamente provocará a acentuação do outro.
O Tao é como a tensão do arco. Complementa cada unilatyeralidade pelo seu oposto. O alto é rebixado, o baixo é elevado. O sentido do céu é reduzir o superabundante e complementar o carente. Por isso, o caminho que conduz ao Tao pelo ser passa pela aceitação dos opostos no mundo dos fenômenos. Quanto mais livre nos tornamos das ambições ilusórias, tanto mais nos libertaremos do próprio ego. A seguir, não olhamos mais para o mundo sob o açoite do medo, ou cheios de esperança, mas puramente como se ele fosse um objeto. Verificamos que todas as coisas surgem e crescem eque retornam sempre à raiz. Vêem-se giganescas energias desencadeando-se feito aguaceiros e ciclones, mas nenhum ciclone dura toda a manhã; logo passa. Reconhecemos como as armas são fortes, mas não são vitoriosas; vemos como a árvore é rija, mas é abatida. É do sofrimento que depende a felicidade. O sofrimento está à espreita da felicidade. Através desses conhecimentos, conseguimos eliminar o eu, porque é este pequeno eu que considera o diminuto espaço entre o nascimento e a morte como sua vida, é esse eu que é a verdadeira causa de toda ilusão. Ao desejar algo para esse espaço de tempo e tratando de realizar o desejado pela magia do nome - pelo qual primeiro vem o conhecimento do desejado, que, por seu turno, causa o desejo - , surgem todas as teias que ocultam o Tao ao consciente. Assim, a própria graça é inquietante e a honra um grande sofrimento, simplesmente por causa da personalidade, que tudo relaciona consigo mesma. Esse eu-personalidade precisa estar constantemente inquieto, tanto quanto lhe acontece receber uma graça ou quando lhe acontece perdê-la, suscedendo o mesmo com a honra. Eliminada a personalidade, não existe mais nenhum mal. Pois o Tao age com segurança soberana, mesmo quando os desejos obscurecem o eu; até mesmo esses desejos são feitos do Tao, segundo leis fixas. Nada poderia ser diferente do que é. Trata-se apenas de não obstruirmos o caminho. Desse modo, a imagem do mundo fica isenta de ilusão e é puro, e assistimos ao jogo da vida com a quietude interior. Sabemos que viver e morrer é o mesmo que entrar e sair. Se seguirmos a lei eterna sem nos apegarmos a nada, sem nos deixarmos endurecer e cristalizar em ponto algum, permanecemos no fluxo do Tao e as forças da morte - que só podem atacar, quando no indivíduo se slidificou - não terão mais poder sobre nós. Assim o caminho exterior, através da existência, é um caminho para o Tao, que se desdobra na existência quando estamos livres da ilusão e somos capazes de assistir, em pura contemplaça~o, a obra-prima da mãe eterna, que tece os fios e os deixa fluir como os jorros de cascatas, ininterrupta e incessantemente. Porém, sabemos que esse véu é vivo, está em constante movimento, não conhecendo demora, nem desejo, nem ego, nem duração. Tudo flui.
O outro leva pelo não-ser. Através dele chegamos À contemplaçã das forças ocultas, à união com a mãe. O que antes era apenas um espetáculo, agora é vivência. Chegamos à unidade sem par, à porta escura de onde brotam o céu e a terra, todos os seres e todas as forças. Esse é o caminho da solidão e do silêncio. Nele surgem lampejos de conhecimentos de que não podemos falar aos outros e que devemos venrar em silêncio. Esse caminho do silêncio nos distancia muit de tudo o que é pessoal, porque o que é pessoal representa apenas o invólucro perecível com o qual nos movemos, à medida que andamos pela vida. Esse caminho exige, no entanto, uma preparação. É preciso trabalhar a alma de tal modo que ela seja capaz de manter a unidade sem se dispersar, porque o critério é este: quando um sábio da mais elevada categoria ouve a partir do Tao, permanece com ele; quando isso se dá com um sábio menos elevado, ele vacila: ora tem o Tao ora o perde. Mas, se se quiser alcançar a entrada do santuário mais íntimo, será preciso ultrapassar essa vacilação. A primeira coisa é a unidade completa. Depois vem a flexibilidade das forças psíquicas. Nenhuma tensão deve permanecer assim como ela existe em estados forçados de unidade, porque a vivência deve surgir de modo totalmente simples e suave. As forças interiores devem começar a fluir e a vencer os obstáculos. É necessário chegarmos à condição de uma criança, que pode fazer todos os esforços sem se cansar, porque é relaxada e descontraída, não-endurecida. Essa liquefação interior não é, no entanto, uma distração, mas um nível que tem como condição prévia a continuidade de concentração. A normalização é que não pode mais fracassar, porque se tornou constante. Só popsteriormente é possível a instrospecção, porque nesse momento o espelho da alma é limpo e tão dócil que não quer mais fixar nenhuma impressão, mas segue sem resistência os estímulos que assomam das profundezas. Temos agora a vivência de como se abrem e se fecham as portas do céu. Contemplamos o invisível, tocamos o impalpável. Estamos além da existência, estamos nas profundezas, junto às origens. Somos testemunha dos processos ocultos da vida e nos mantemos serenos e dóceis como a ave fêmea com o ovo, que ecerra o segredo das vida. E o ovo se abre. Dá-se a união com o Tao final. O filho encontrou a mãe...
Agora surge a grande certeza que penetra tudo, o reconhecimento salvador da unidade sem par. Mas desse reconhecimento resulta a possibilidade de não querermos mais consolidar e separar os opostos em sua aparência, mas aceitá-los e reuni-los numa síntese mais elevada. Reconhecemos dentro de nós mesmos o masculino criador, mas também o feminino receptivo; reconhecemos a honra que temos e também permanecemos voluntariamente na vergonha. Por isso, livramo-nos de todas as misérias pessoais e voltamos à simplicidade original. Quem reconhece desse modo a sua condição filial e conserva a sua mãe (a grande mãe do mundo, o Tao),não corre perigo em toda a vida. Completa o pequeno, conserva a flexibilidade e, por isso, mantém-se livre de todo o sofrimento. Quem sabe preservar desse modo a sua vida, também não teme o rinoceronte nem o tigre e é capaz de passar no meio de um exército, sem armadura nem armas. Pois não tem nnhum ponto mortal qe possa ser ferido, já que nele nada há que oponha resistência.
A partir desse conhecimento,ele também ordenará a sua ação. Sempre irá efetivar o que ainda não é e ordenar o que ainda não entrou em confusão, porque justamente aqui já estão as sementes que existem no invisível (...). É preciso trabalhar sobre essas sementes, a fim de que o que nelas fora depositado possa se desenvolver com o crescimento, sem que ele próprio se esforce ou sem que haja interferência exterior. Essa influência orgânica das sementes é o modo decisivo de trabalhar de quem alcançou o Tao. O que for plantado desse modo não será arrancado. O bom caminhante não deixa rastros. O bom guardião não usa fechadura nem tranca. A verdade é que quem tenciona trabalhar sobre as sementes revela sua força secreta no fato de deixar que as forças opostas se efetuem a princípio calmamente. Primeiro devemos deixar que se expanda completamente o que pretendemos comprimir. Só quando uma das forças se aproxima pela atuação do esgotamento, proporciona oportunidade de ser superada facilmente.
É justamente essa a diferença entre o caminho do Tao e o caminho do conhecimento. O caminho do conhecimento leva cada vez mais longe no mundo; busca, explora, armazena cada veis mais fatos. No, entanto, para atingir o Tao é necessário ir cada vez mais para o interiro, até alcançar o ponto de unidade, onde a personalidade individualizada entra em ontato com a totalizade cósmica. a partir desse ponto, abre-se a possibilidade da contemp´lação cósmica. Sem sair pela porta pode-se conhecer o mundo. Sem olhar pela janela, pode-se contemplar o sentido do céu. O que está nesse ponto não caminha e, não obstante, chega ao fim; não olha para nada e, no entanto, tem certeza sobre tudo, não age e, conudo, leva tudo à realização.
Desse modo, o que tem o Tao levaráa sua vida como uma pessoa, mas o que é pessoal, a máscara do eu, não o enganará mais. Ele vai representar seu papel, como os outros, mas se manterá distante da agitação deles, porque se libertou da ilusão e aprecia nutrir-se unicamente da mãe.''
Que comece a ordenha da vaca-noite....

11.9.06

Across the universe

A beleza das bolhas-de-sabão está nas multicores images
que quase nunca vemos.

Furta-cores,
tece-sonhos,
dança-luzes...

É a pausa epifânica que disperta os sonhos -
cristalina imaterialidade...

Amo bolhas,
teço lábrimas,
conto passos que perderam os pés pelo caminho.

Onde ficas, quando me partes, insuspeitável ponte?
Aonde pensas que me levas, se me deixas?

Quando me sonhas,
que fazes com a materialidade de mim - imanifesta?

Sinto cheiros,
persigo bolas-de-sabão.
Traço pontos insuspeitáveis nas emoções,
Danço nua...

Te leio com meus lábios semi-cerrados, aspirado olores.
Perscrutando fontes distantes a jorrar -
acordando a sede...

Qu'é que eu sei?