20.9.06

Ausente... Ímpar... Negro...

-Tem uma brexa, tem uma brecha... Gritou de espanto, mas como toca-la sem vê-la, se a força do vento que por lá escapa, me arrepia os cabelos?
Não cantou...
Muro absoluto, antigo – porta-de-destino.
Eu prisioneiro utilitário, a cavar cada vez mais fundo, a trazer a superfície água tão límpida...
Tem uma brecha?

Aonde irá a terra em minhas unhas, até quando meu Deus? – Até quando?
Por que sei, se a escuridão úmida e só do que me aflige não pode por si mesma libertar?
Onde irei, se dizem que a Terra é redonda, se as margens nunca chegam a aportar, se as linhas nunca tocam minhas mãos, se há âncoras sem fim a me tragar?
As frestas a balbuciar-me sonhos, a mente a proliferar insanos, as mãos inquietas nos desvãos, o cenho a ferir-me e a sangrar...
“Levanto meus olhos, aos montes, de onde me virá o socorro?”
“Socorram-me subi no ônibus em Marrocos!”
Falando absurdos, sigo sozinho o meu descaminho.
Questões que me atormentam e constroem,
Silêncios que ressoam como dardos, atravessam como flechas com seu susto o coração...
Que teço enquanto calo, que tenho do que cavo? Se minhas águas saciam sedes estranhas e me brotam as águas das entranhas – dá aridez de mim a desgastar...
Tenho medo... Tenho farpas... Tenho sonhos... Sinto sede...
“Como pode o peixe vivo viver fora d’água fria?
Como poderei viver?
Como poderei viver?”
Tem uma brexa, meu Deus, caio ou saio?
Onde me leva o incessante cavar, cada vez mais fundo, cada vez mais árido?
Tenho frestas, onde não consigo ver,
Mas como me partem... Evasão de mim.
Para além que não posso desfrutar...
“Onde estás que não respondes?”
Onde respondes que não estás?...
A chuva escorre pelos vidros ou a vida escoa pelas brechas?
Em que lugar não há arestas?

“Silêncio.
Não há banda, não há orquestra – tudo é uma gravação...”

Um comentário:

Anônimo disse...

Você é foda.