Estive com minha cara amiga a pouco, havia dormido em sua casa e no início da tarde nos despedimos. (Estou alegre por revê-la...) Naquele momento, com semelhante emoção a abracei ao nos despedirmos...
Demos um abraço demorado e entregue, então lhe perguntei: - Você compreendeu o que lhe disse quando a abracei? Ela me olhou nos olhos e falou: - Mas você esteve em silêncio...
E eu sorrindo, condescendente e orgulhosa continuei: - Era isso, não tinha palavras. Então ela calou, me olhou bem nos olhos, terna, e quando cheguei à porta ainda me soltou um beijo.
Refiz meu caminho para casa a pensar: - Espero que ela tenha compreendido... Naquele silencioso abraço em que eu a envolvi cálida, angustiada, saudosa e serena, a amei. E o que me inquieta não é a incerteza de ela ter me entendido, até creio que o fez.
A questão que se me apresenta é: por que ela talvez tenha temido dizer-me que me entendeu com outras palavras, de outra forma? Por que talvez não tenha querido admitir que sabe da impossibilidade? Por que talvez tenha chorado para dentro, já que toda visão de fora é sempre transbordamento - visível ou não?
Por que não admitir que embora não tendo compreendido fez parte, esteve presente e atenta? Por que talvez tenha temido partir meu coração, se como o ovo o coração do outro só é alcançado quando a casca é rompida?
Por que? Talvez por não saber que também sei da impossibilidade de saber.
Tudo bem amiga, fica entre nós, pré-sinto a sua aflição... Mas já aceitei que nada nos é dado saber, somente supor e suponho coisas maravilhosas vindas de mim para você.
Sinto que nosso silêncio é nosso ponto de conexão... Ficamos bem juntas em silêncio - tênue afinidade. Sei que quando pergunta como estou deseja me ajudar embora saiba não poder...
Sei que quando me mostra uma música ou indica um livro está dizendo: - vem cá, olha o que me afeta... Quero que faça parte do que toca a minha vida; quero ter você por perto mesmo que não entenda as coisas que amo, quero que caminhe comigo..., sua simples presença me agrada.
Eu compreeendo, mesmo sem entender... Porque eu pré-sinto, porque não tenho medo de errar e isso me abre como uma flor, sem pudor, disposta a ser polinizda ou decepada - entrege...
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