27.1.06

Libélula

Frêmito e beleza... Disso é feita a tessitura da vida, qualquer vida.
Nas entranhas da coisa viva há um bater de asas convulso e gracioso de espanto e beleza, em estado puro. De uma beleza não conceitual, terrível, avassaladora - beleza antes da beleza mesma.
Prenúncio, aroma do desabrochar do belo que pulsa num deslizar de lesma, lagarta que com seu exotismo promete a borboleta, quiçá bela, no entanto inegavelmente alada e flúida e graciosa...
Quaquer vida farfalha... Tudo flutua entre frêmito e formosura, tudo viceja nas entranhas rosadas e pulsantes que uivam sua vida, seu estado vivo.
Essa meditação inconsciente e inescapável de ser - viver, ulular.
Vida libélula, sucessão de paisagens vistas das janelas da alma. Sempre a passar, repleta de intocadas possibilidades...
Não compreendo... E como é livre e suave experimentar ser uma núvem ou uma árvore - nada sabem e que frescor isso lhes traz.
Dissecar, classificar, definir, como conceber tal idéia? Usurpar da forma mais vil a coisa-viva, do que o outro é feito..., querer dizer o outro.
Caio de joelhos, sobressaltada e em prantos.
Perdão, ser humano é perverter o mundo, adoecê-lo...
Eu não entendo e aceito... Não quero, não devo, não posso entender.

Um comentário:

Anônimo disse...

Como somos feitas de materiais tão diferentes! E o resultado, espelho da vida, inesperadamente complementar. Tudo aquilo que não sei dizer me arranha no peito. Preciso dizer a mim mesma em face ao Outro. Para me saber.
E já que falo de espelhos, li um troço lá no cabeza marginal (www.cabezamarginal.org), do Vitor Freire, que me lembrou a mim mesma e, por tabela, a você: "Tudo em mim que não está machucado, não me pertence".
Sempre a lhe esperar, saudade.