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5.12.09
Como me sinto
Após um longo armistício rapozeando paz a angústia voltou e com ela uma certa tristeza sem nome e velha conhecida. Talvez seja a minha crise dos quarenta chegando um pouquinho cedo – sempre foi dada precocidades. Preciso escrever antes que enlouqueça – porque venho sentindo uma falta absurda de mim. Creio que o estopim foi ter (distraidamente) tocado o violão após um longo silêncio e porque voltei (não sei a razão) a cantar – é assim com todos os pássaros basta cantar pra ficar triste, mas como conter-se? Estou no inferno astral porque meu aniversário é dia 07 e 17 de dezembro (tenho dois aniversários) – não, não (melhor dizendo) um é auspicioso e oficioso (17/12) e o oficial é infernal. Entretanto não vou temer, vou me entregar, admitir e acolher essa crise – tão minha, velha cúmplice de crimes imorais. Sinto-me sempre assim alguém partida ao meio – desde sempre – caminhante na corda-bamba, no frio da navalha. Responder já não posso minhas eternas indagações de cárcere, meu lamento de alcova, minha solidão de multidões – quem o poderia? Se por vezes me sinto uma farsante em seu pior ato de auto-comiseração – tragi-comédia de bêbados... Fui desterrada, devassada, violentada em meu âmago e agora essa lágrima seca – essa ternura muda. Gostaria de puder vociferar, cerrar as unhas em carne quente, bufar, destruir tudo - mas como? Se sinto que esse pandemônio também é fruto de meu ventre, da contradição absoluta de minhas entranhas – e nessas reside uma chama feroz que me consume, uma dama louca que me aconselha enquanto durmo. E durmo sempre, sobretudo, em vigília. Sonho ilhas, amores, tecituras, um rubro de abajur envolto em seda, dedilhar de mãos – sedosidade e delícias... Me sinto essa dor infinita e sem nome que me pergunta sempre: - Como te chamas? E eu sempre respondo: - Não me chamo nunca, muito embora os outros insistam em fazê-lo. Tenho medo, por favor, meu miolo é quente, pulsa e sangra à menor aproximação... Assim não... tento em vão explicar sem dizê-lo – e como não poderia ser diferente –, entretanto, entre mim e te só incompreensão... Que é que eu sei? Se só nos aproximamos no atrito me pergunto: – atrito, choque mesmo, já é amor? E o infinito silêncio me responde calado: - Tu o dizes, menina travessa, Tu o saberá, mulher, ser alado. E eu, dividida que sou nunca estou certa e a vacilar caminho trôpega...
15.6.09
Viagens estáticas - Pedra de sonho
Quão fundo estou disposta a ir em minha busca de quem sou?
Quão disposta estou a me entregar ao processo?
Onde o processo está?
O quê ou quem ou quais situações são já ou ainda o processo?
Estou disposta a abrir mão? A não sustentar nada?
A deixar acontecer e aprender a voar?
Quão disposta estou a me entregar ao processo?
Onde o processo está?
O quê ou quem ou quais situações são já ou ainda o processo?
Estou disposta a abrir mão? A não sustentar nada?
A deixar acontecer e aprender a voar?
15.5.09
Eu respeito o tempo dos seres porque tudo me é sagrado: as chegadas, as passagens, as grandes estadias e as curtas permanências. Pedra, ave, gente, chão - possuem sua ocasião e instante. Acolhe-los é acatar o que deles há de incompreensão cíclica em mim. De tantos ciclos, este se abre tão necessário quanto doloroso. Pairo rugosa como grão de areia que se desprende e ganha os ares em puro êxtase. Serei cisco a irritar olho alheio ou duna, praia, esquecimento de mim?
4.3.09
Oração
Que eu não perca a vontade de amar, mesmo sabendo que a pessoa que eu mais ame possa não sentir o mesmo por mim...
Que eu não perca a luz e o brilho no olhar, mesmo sabendo que muitas coisas que verei no mundo escurecerão meu olhos...
Que eu não perca a beleza e a alegria de viver, mesmo sabendo que muitas lágrimas brotarão dos meus olhos e escorrerão por minha alma...
Que eu não perca a vontade de doar este enorme amor que existe em meu coração, mesmo sabendo que muitas vezes ele será submetido e até rejeitado...
A fim de que eu seja sempre sincera com o meu ser interno que atravessado pelo raio do amor-sabedoria ama por conta de, a despeito de e para além de...
IRINSHIRIN MAUAKSIKILK
Que eu não perca a luz e o brilho no olhar, mesmo sabendo que muitas coisas que verei no mundo escurecerão meu olhos...
Que eu não perca a beleza e a alegria de viver, mesmo sabendo que muitas lágrimas brotarão dos meus olhos e escorrerão por minha alma...
Que eu não perca a vontade de doar este enorme amor que existe em meu coração, mesmo sabendo que muitas vezes ele será submetido e até rejeitado...
A fim de que eu seja sempre sincera com o meu ser interno que atravessado pelo raio do amor-sabedoria ama por conta de, a despeito de e para além de...
IRINSHIRIN MAUAKSIKILK
11.2.09
Bio - Grafia ou com o macio dos dedos nas entranhas rubras
Eu, desde pequena sempre tive uma certeza, a de que a dúvida muitas vezes é um benefício duro e bom de se ter a sua disposição; sobretudo quando não se tem certeza sobre os começos. De alguma forma isso sensibiliza e não foi diferente comigo. Cresci com duas primas, as quais já trilham caminhos para longe de meus passos...
Desde muito pequena sempre houve uma “estranha” simbiose entre mim e os outros animais, as plantas, as pedras, o vento e os seres que não possuem mais um corpo físico para transitar nesse mundo. Tive uma infância, afora esses pequenos detalhes, muito comum. Corria pelo mato, subia em árvores, contemplava o por-do-sol, imitava os pássaros, comia frutinhas desconhecidas, nada que qualquer criança que tenha oportunidade não faça.
Entretanto, meus afetos de criança me faziam uma criança excessivamente sensível aos demais, “bicho do mato”, solitária, afeita às palavras, afoita... Fiz amigos em todos os reinos, cães, palmeiras, pedras e em todos os planos. No astral fiz amigos, reencontrei outros em sonhos de vigília ou não.
Aos 5 anos minha mãe me contou que eu era adotiva e a forma como eu cheguei até ela. Também aos 5 anos tomava uma dose de whisky todos os dias, normalmente após o almoço, para acompanhar meu pai (inicialmente) e depois porque eu e o whisky tínhamos lá nossa profunda amizade. Aos seis vi a “primeira pessoa que não devia estar lá” de minha vida – um homem alto, de terno e sapatos escuros com seus negros cabelos e sua pele branca combinando com a blusa branca que usava. Foi também aos seis que tive meu primeiro sonho premonitório acerca de mim, e como sempre me acontece, não pude evitar o estava por vir...
Então, um amigo da família, que vivia em nossa casa, brincava comigo constantemente viu em mim a mulher que eu seria ao invés da criança – eu tinha lá minha malícia, sabe como é, muito madura para algumas coisas e, ainda assim, nada além de uma criança – e me agarrou e, enfim, deslizou seu corpo no meu comigo suspensa em seus braços, mas me soltou quando eu exigi que me coloca-se no chão e me largasse. Sem maiores conseqüências, acho, mas isso me fez um tanto cautelosa quanto a minha exposição pessoal e sensualidade.
Dos 11 aos 13, os primeiros mal estares causados pelo álcool. Aos 13 anos a escrita se me aflorou e comecei a escrever coisas lindas, desenvolvi o gosto pela palavra (o qual me acompanha até hoje), pela semântica, pela poesia, a subjetividade dos seres. E, assim como a escrita, minha mãe deu à luz a meu irmão. Aos 15 comecei a fazer Terapia Transpessoal e fui aos poucos me abrindo posto que a essa altura era muito retraída e afeita à solidão. Nessa época minha relação com minha mãe se tornou insustentável, atritos, afastamentos, cactos brotando no peito...
Aos 16 anos o ponto culminante dos versos de amor e das angústias internas, o desgosto das relações humanas, o silêncio se fez fúria, revolta, agressividade – e a criança quase muda, silente, que se obrigava a aceitar, engolir calada, disse NÃO a tudo e a todos, sobretudo, os mais queridos, os mais amados...
Dos 16 aos 18 instaurou-se a guerra e os milhares de armistícios, as fronteiras se alargaram sob a égide da espada e a menina acanhada fez força, desenterrou seus mortos, destilou seus venenos... Nesse período minha relação como meu pai se deteriorou e fiquei só dele também.
Aos 18 passei na Faculdade em Salvador e fui morar sozinha. Descobri os prazeres de possuir o próprio espaço e atender às próprias necessidades – iniciou-se a ampliação de minha perspectiva de mundo.
Dos 18 aos 25 conheci o sexo, uma experiência transformadora, abusei do álcool, das festas, experimentei psicoativos, fiz escolhas perigosas e, sobretudo, acertadas, trilhei os caminhos tortuosos da provação auto-infligida, da profunda solidão e amargura e venci – havia sobrevivido a mim mesma – e, entre mortos e feridos lá estava eu de pé.
Aos 20 tive uma depressão que, arrisco dizer, teve fundo emocional e espiritual, a qual foi curada com muito amor e sexo e a presença generosa de um namorado terno, íntimo, amigo e cúmplice – durou uns seis meses e me fez perceber muitas coisas acerca de mim mesma e de minha capacidade de auto-regeneração.
Redescobri o amor por minha mãe por volta dos 23 anos quando me encontrava numa busca por resgate de ancestralidade e aprofundamento do sentido do feminino a partir de mim. Daí pra frente rompi definitivamente com meu pai aos 24, larguei o escritório comum, a casa da família e passei a repensar a vida enquanto pintava camisetas e terminava a Pós-Graduação regada a coquetéis de frutas.
E aos 26, pela graça, descobri que nosso rompimento não havia sido definitivamente. E, então, voltei para casa, para meus pais e meu irmão. E após muita dor e alguns anos distante o furor se fez brando e o fogo que devastava começou a arder e deu lugar ao calor que aproxima e aquece. Hoje, estou me curando, me recuperando dos machucados que me causei após me debater todos esses anos, um surto epiléptico de vida – vida que desconhece, que estranha, que teme e freme alucinada.
Agora, em meu vigésimo sétimo aniversário, me reconciliando comigo mesma e as partes de mim que ainda são sombra, como quem fuça a própria carne aberta a procura da lança, bala, dardo – por saber nesse doloroso intento seu único meio de se curar.
Desde muito pequena sempre houve uma “estranha” simbiose entre mim e os outros animais, as plantas, as pedras, o vento e os seres que não possuem mais um corpo físico para transitar nesse mundo. Tive uma infância, afora esses pequenos detalhes, muito comum. Corria pelo mato, subia em árvores, contemplava o por-do-sol, imitava os pássaros, comia frutinhas desconhecidas, nada que qualquer criança que tenha oportunidade não faça.
Entretanto, meus afetos de criança me faziam uma criança excessivamente sensível aos demais, “bicho do mato”, solitária, afeita às palavras, afoita... Fiz amigos em todos os reinos, cães, palmeiras, pedras e em todos os planos. No astral fiz amigos, reencontrei outros em sonhos de vigília ou não.
Aos 5 anos minha mãe me contou que eu era adotiva e a forma como eu cheguei até ela. Também aos 5 anos tomava uma dose de whisky todos os dias, normalmente após o almoço, para acompanhar meu pai (inicialmente) e depois porque eu e o whisky tínhamos lá nossa profunda amizade. Aos seis vi a “primeira pessoa que não devia estar lá” de minha vida – um homem alto, de terno e sapatos escuros com seus negros cabelos e sua pele branca combinando com a blusa branca que usava. Foi também aos seis que tive meu primeiro sonho premonitório acerca de mim, e como sempre me acontece, não pude evitar o estava por vir...
Então, um amigo da família, que vivia em nossa casa, brincava comigo constantemente viu em mim a mulher que eu seria ao invés da criança – eu tinha lá minha malícia, sabe como é, muito madura para algumas coisas e, ainda assim, nada além de uma criança – e me agarrou e, enfim, deslizou seu corpo no meu comigo suspensa em seus braços, mas me soltou quando eu exigi que me coloca-se no chão e me largasse. Sem maiores conseqüências, acho, mas isso me fez um tanto cautelosa quanto a minha exposição pessoal e sensualidade.
Dos 11 aos 13, os primeiros mal estares causados pelo álcool. Aos 13 anos a escrita se me aflorou e comecei a escrever coisas lindas, desenvolvi o gosto pela palavra (o qual me acompanha até hoje), pela semântica, pela poesia, a subjetividade dos seres. E, assim como a escrita, minha mãe deu à luz a meu irmão. Aos 15 comecei a fazer Terapia Transpessoal e fui aos poucos me abrindo posto que a essa altura era muito retraída e afeita à solidão. Nessa época minha relação com minha mãe se tornou insustentável, atritos, afastamentos, cactos brotando no peito...
Aos 16 anos o ponto culminante dos versos de amor e das angústias internas, o desgosto das relações humanas, o silêncio se fez fúria, revolta, agressividade – e a criança quase muda, silente, que se obrigava a aceitar, engolir calada, disse NÃO a tudo e a todos, sobretudo, os mais queridos, os mais amados...
Dos 16 aos 18 instaurou-se a guerra e os milhares de armistícios, as fronteiras se alargaram sob a égide da espada e a menina acanhada fez força, desenterrou seus mortos, destilou seus venenos... Nesse período minha relação como meu pai se deteriorou e fiquei só dele também.
Aos 18 passei na Faculdade em Salvador e fui morar sozinha. Descobri os prazeres de possuir o próprio espaço e atender às próprias necessidades – iniciou-se a ampliação de minha perspectiva de mundo.
Dos 18 aos 25 conheci o sexo, uma experiência transformadora, abusei do álcool, das festas, experimentei psicoativos, fiz escolhas perigosas e, sobretudo, acertadas, trilhei os caminhos tortuosos da provação auto-infligida, da profunda solidão e amargura e venci – havia sobrevivido a mim mesma – e, entre mortos e feridos lá estava eu de pé.
Aos 20 tive uma depressão que, arrisco dizer, teve fundo emocional e espiritual, a qual foi curada com muito amor e sexo e a presença generosa de um namorado terno, íntimo, amigo e cúmplice – durou uns seis meses e me fez perceber muitas coisas acerca de mim mesma e de minha capacidade de auto-regeneração.
Redescobri o amor por minha mãe por volta dos 23 anos quando me encontrava numa busca por resgate de ancestralidade e aprofundamento do sentido do feminino a partir de mim. Daí pra frente rompi definitivamente com meu pai aos 24, larguei o escritório comum, a casa da família e passei a repensar a vida enquanto pintava camisetas e terminava a Pós-Graduação regada a coquetéis de frutas.
E aos 26, pela graça, descobri que nosso rompimento não havia sido definitivamente. E, então, voltei para casa, para meus pais e meu irmão. E após muita dor e alguns anos distante o furor se fez brando e o fogo que devastava começou a arder e deu lugar ao calor que aproxima e aquece. Hoje, estou me curando, me recuperando dos machucados que me causei após me debater todos esses anos, um surto epiléptico de vida – vida que desconhece, que estranha, que teme e freme alucinada.
Agora, em meu vigésimo sétimo aniversário, me reconciliando comigo mesma e as partes de mim que ainda são sombra, como quem fuça a própria carne aberta a procura da lança, bala, dardo – por saber nesse doloroso intento seu único meio de se curar.