23.4.08

Reencontro

Aliso sua superfíce áspera,
de um cinza confuso salpicado de negro.
Suas linhas grossas, muro antigo, bruta realidade.
Distância sem fundo - medo.
Discrepância...

Por que não permite a meus pés
O seio cálido da terra fôfa e sua umidade?
O que é esse sem-nome imenso
de que me afasta?

Meus dedos perscrutam a fenda para meus pés sedentos,
ávidos do afago da terra.
Meu nariz fareja o arôma ancestral,
a ostra, o mangue e seu negrume profundo - perfumoso.

Deito sobre sua superfície de lápide,
tateio um coração que pulse seu afeto recôndito - inconfesso.
E encontro em seu regaço de aspereza,
súbito alento.

Que num suspiro me responde:
-Mãe...
Antes de fazer-se em pedaços e ser levado pelo vento.
E tocando a areia com a palma dos pés,
Sinto o mar vir banhar meus dedos.

18.4.08

Vanessa

Dentro do olho d'água tem medo?
Nunca soube por quê me encantam as borboletas
Tão leves - num arregalo de olhar a vida fremindo
Delicadas, quase impalpáveis
Com aquela eterna impressão de já serem sempre outra coisa
Ao menor encontro
É tão doído amar uma borboleta quanto inevitável...
Basta que ela pouse em sua superfície
E aí você pinga - aqüoso...
Seus olhinhos escuros, facetados
A visualizar numa miríade de multiplicidade
Sua ternura infinita...
E como todo infinito, morrem tão logo as percebemos
Talvez porque saibam que tudo flui
E nada deve permanecer estático
Sobretudo se há amor.
Sabe, o maior amor que tive era uma borboleta -
Ínfimo e infinito.