13.12.06

INTERMITÊNCIAS

“(...)Há certos muros que não devem ser vistos antes de envelhecermos: musgo e ocre, dálias sobre alguns, dilaceradas, sons que não devem ser ouvidos, pulmões da mentira, os metálicos sons da crueldade ecoando fundo até o coração, palavras que não devem ser pronunciadas, as eloqüentes-ocas, as vibrantes de infâmia, as rubras de sabedoria, latejantes. Sustos. Como me sinto? Como se colocassem dois olhos sobre a mesa e dissessem a mim, a mim que sou cego: isto é aquilo que vê. Toco os dois olhos em cima da mesa. Lisos, tépidos ainda (arrancaram há pouco), gelatinosos. Mas não vejo o ver. Assim é o que sinto tentando materializar na narrativa a convulsão do meu espírito. E desbocado e cruel, manchado de tintas, essas pardas-escuras do não saber dizer, tento amputado conhecer o passo, cego conhecer a luz, ausente de braços tento te abraçar, Conhecimento. Bêbado vou indo(...)".

Com meus olhos de cão - Hilda Hilst.

Um comentário:

Anônimo disse...

hunf... quero novidades!!!